segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O Inexplicável Deus e Suas ações

Versículo-Base: Jó 42:5-10
"Meus ouvidos já tinham ouvido a teu respeito, mas agora os meus olhos te viram. Por isso menosprezo a mim mesmo e me arrependo no pó e na cinza".
Depois que o Senhor disse essas palavras a Jó, disse também ao Elifaz, de Temã: "Estou indignado com você e com os seus dois amigos, pois vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó. Vão agora até meu servo Jó, levem sete novilhos e sete carneiros, e com eles apresentem holocaustos em favor de vocês mesmos. Meu servo Jó orará por vocês; eu aceitarei a oração dele e não farei com vocês o que vocês merecem pela loucura que cometeram. Vocês não falaram o que é certo a meu respeito, como fez meu servo Jó".
Então Elifaz, de Temã, Bildade, de Suá, e Zofar, de Naamate, fizeram o que o Senhor lhes ordenara; e o Senhor aceitou a oração de Jó. Depois que Jó orou por seus amigos, o Senhor o tornou novamente próspero e lhe deu em dobro tudo o que tinha antes."


Jó conhecia a Deus pela teoria. No final da história, Deus se fez conhecido a ele e sua vida foi totalmente restaurada. Independentemente de todas as circunstâncias, Jó permaneceu íntegro e fiel ao SENHOR. Embora ele tenha sido questionador à cerca do que estava passando e ter sido questionado por seus “amigos” à cerca de sua conduta, ele tinha consciência de quem era e apenas não entendia o porquê de estar passando por tais provações. Isso não lhe parece familiar?

Todos os dias nos questionamos com muitas coisas referente ao nosso cotidiano: “porque eu não tenho o que ele (a) tem?”, ou então, “Eu sou fiel a Deus, busco e sirvo a Ele... porque então me surgiu essa enfermidade?” Com isso, nós começamos a construir “teologias” à cerca de nossas circunstâncias e adversidades. Começamos a dizer, por exemplo, que nossas enfermidades vieram dos nossos antepassados devido a suas práticas pecaminosas (idolatrias, roubos, adultérios... etc); e para melhorarmos, nós precisaremos participar da campanha da “água de Israel” e comprar o “sabonete do lavandeiro” e, para segurança, passaremos por uma sessão de libertação... vai que tenha algum encosto, não é?!

O ser humano é expert em querer definir Deus e Suas ações. Temos a maldita mania em defini-lo e até queremos ensinar como Ele deve agir com as pessoas. Também barganhamos com Ele!

“Ah Senhor! Se você me conceder isso, eu vou fazer tal coisa!”

Quero hoje analisar com vocês as ideologias que os amigos de Jó tenham sobre quem era Deus e suas frustrantes conclusões. A intenção dessa mensagem é apenas de mostrar que Deus é Deus e jamais compreenderemos a forma dEle trabalhar, Por isso, nós devemos esperar pacientemente nEle.
Com os discursos encontrados no livro de Jó, eu observei alguns pontos de vista que muitos de nós têm à cerca de Deus e de como as “coisas funcionam”. Cada amigo de Jó vinha com uma teologia pronta, mas será que eles estavam certos?

A primeira visão que encontramos é essa:


1. “Tenho que obedecer e clamar a Deus para que não me sobrevenha nenhum mal” (Teologia da Prosperidade)
"Mas, se fosse comigo, eu apelaria para Deus; apresentaria a ele a minha causa. Ele realiza maravilhas insondáveis, milagres que não se pode contar. Derrama chuva sobre a terra, e envia água sobre os campos. Os humildes, ele os exalta, e traz os que pranteiam a um lugar de segurança. Ele frustra os planos dos astutos, para que fracassem as mãos deles."  (Jó 5:8-12)

Esse é um dos grandes erros que tem sido propagados nos arraiais cristãos! É como se Deus fosse um chefe de uma empresa que fornecesse ao seu empregado a devida estabilidade e segurança no trabalho que tanto precisa. Ou pior: colocar Deus como nosso empregado e nos colocarmos como patrão!

“Restitui Eu quero de volta o que é meu!”
É bem assim que tem acontecido! Muitos tem exigido de Deus um “céu na terra”, uma vida sem dificuldades e problemas. A maldita teologia da prosperidade que tem entrado nas igrejas quer nos apresentar um evangelho sem renúncia, sem submissão e obediência, sem consciência de pecado... sem cruz. E ainda quer apresentar uma "vida blindada de adversidades", como se fosse pecado passarmos por tribulações.

“Declare! Determine! Tome posse de sua benção!”

Elifaz, de forma prepotente, se diz inspirado para revelar uma verdade sobre Deus. O sinal dessa revelação inicialmente veio em um vento, um arrepio nos pelos (você conhece alguém assim?) E em seguida, um vulto que lhe falou tais verdades. Nessas “verdades”, ele alega que Deus “tem a obrigação de livrar o crente” automaticamente da adversidade se tal pessoa clamar. Com isso, ele alega que o mal não pode atingir a quem serve a Deus. Isso contradiz o que Cristo diz. Pois, segundo Jesus, o nosso Deus (...) “faz raiar o Seu sol sobre maus e bons e derrama chuva sobre justos e injustos” (Mateus 5:45 b). Outro texto é esse:

Portanto, não se preocupem com o amanhã, pois o amanhã se preocupará consigo mesmo. Basta a cada dia o seu próprio mal". (Mateus 6:34)


Outra coisa é que nosso clamor passa pelo crivo da Palavra e vontade de Deus. Também é sempre bom lembrar que as dificuldades também existem para nos amadurecer e nos fortalecer no nosso cotidiano. Reconhecendo isso, “demonizaremos” menos e glorificaremos mais cada circunstância. Afinal, assim como diz Romanos 8:28:

“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito.” (Romanos 8:28)

2. “Se eu me arrepender e me converter, eu serei salvo das tribulações que passo”

"Mas, se você procurar a Deus e implorar junto ao Todo-poderoso, se você for íntegro e puro, ele se levantará agora mesmo em seu favor e o restabelecerá no lugar que por justiça cabe a você."
(Jó 8:5,6)
Uma coisa precisamos ter certeza: uma vida de arrependimento e conversão deve fazer parte da vida do crente em Jesus. Não para que sejamos livres das tribulações e dificuldades, mas da escravidão do pecado e do castigo eterno.

Pedro, em seu primeiro discurso, ele nos alerta a vivermos uma vida de constantes conversões e arrependimentos, não para que não passemos por tribulações, mas para que nosso interior seja transformado e o relacionamento com o Pai seja restaurado. Em Atos 3:19 diz o seguinte:

"Arrependam-se, pois, e voltem-se para Deus, para que os seus pecados sejam cancelados, para que venham tempos de descanso da parte do Senhor, e ele mande o Cristo, o qual lhes foi designado, Jesus." (Atos 3:19,20)
Bildade desconfia da integridade de Jó e insiste dizendo que a vida dele precisa estar voltada para Deus para que Deus lhe restitua tudo novamente... de forma instantânea. Iguais aqueles testemunhos estranhos que vemos nas TV’s.

“Eu vivia sem Jesus e estava desempregado e perdido. Mas agora aceitei Jesus e agora sou domo de uma grande empresa de eletrodomésticos. ” 
Será que muitas vezes não agimos como Bildade? Achamos que tudo é refeito de forma instantânea e damos um paliativo de palavras ao nosso próximo achando que tudo se resolve em alguns momentos. Nem tudo é instantâneo!

Fico aqui imaginando a jornada de nosso senhor Jesus Cristo. O plano de redenção se concluiria através dEle na cruz. Mas o discipulado dos discípulos levou aproximadamente três anos. Existem coisas no Reino de Deus que são instantâneas, mas outras demandam de nós investimento de tempo.

Outra coisa importante: temos que fazer uma autoanálise de nossa relação com Cristo, para que não sejamos enganados por pessoas que se dizem de Deus, mas não são.

“Essa questão financeira que você está passando é porque você está em pecado! Faça uma campanha de libertação em sua casa que Deus vai revelar e vai abrir as portas. Vou convidar uns irmãos do RE-TE-TÉ e vai ser fogo puro”.
Jó, por sua vez, questionou as palavras de Bildade, reconhecendo que nada do que ele estava sendo acusado era verdadeiro. Ele se conhecia, por isso se questionava.

Cristo nos alertou que o sofrimento e as aflições seriam um processo natural de todo aquele que serve a Ele. Ele diz:

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo. ” (João 16:33)



3. Provavelmente é karma! Tenho que praticar boas obras!

"Ah, se Deus lhe falasse, se abrisse os lábios contra você e lhe revelasse os segredos da sabedoria! Pois a verdadeira sabedoria é complexa. Fique sabendo que Deus esqueceu alguns dos seus pecados." (Jó 11:5,6)

Zofar estava dizendo que Deus tinha esquecido dos pecados ocultos de Jó. Como se lembrou, veio então a “vingança de Deus”. Agora para aplacar tal ira, Jó necessitaria a partir de agora mudar toda a sua conduta. Mudando a conduta, Deus veria que tal pessoa não “merece” tal sofrimento.

Vivemos atormentados com a necessidade de méritos. Para ganharmos algo necessitamos fazer de tal coisa. Nossa sociedade funciona dessa forma e, muitas vezes levamos para a igreja essa nossa forma de ver Deus.

Achamos que para merecer a Sua graça, a Sua salvação e o Seu amor necessitamos de fazer algo a mais. De acordo com Paulo, em sua carta, somos salvos não pelas obras, mas por Seu favor, por Sua graça. Se não fosse assim, nós buscaríamos salvação pelas obras. E as obras deve ser atitude de quem é salvo, não para sermos salvos.

Elifaz por sua vez alega que a omissão de Jó ao próximo era sinônimo de sua situação atual. Ele diz o seguinte:

“Você não deu água ao sedento e reteve a comida do faminto, sendo você poderoso, dono de terras e delas vivendo, é honrado diante de todos. Você mandou embora de mãos vazias as viúvas e quebrou a força dos órfãos. Por isso está cercado de armadilhas e o perigo repentino o apavora.” (Jó 22:7-10)
Não devemos fazer boas obras com o medo de passarmos tribulações. Embora, claro que a evidencia de sermos servos de Deus é a demonstração de amor com o nosso próximo.


4. Deus é completamente inexplicável

“Então o SENHOR respondeu a Jó do meio da tempestade e disse: quem é esse que obscurece o meu conselho com palavras sem conhecimento? Prepare-se como simples homem; vou fazer-lhe perguntas, e você me responderá.” (Jó 38: 1-3)

De repente, diante de uma “salada de teologias” e de opiniões à cerca de quem é Deus e de suas ações, Deus interfere toda aquela retaliação dos amigos de Jó e faz uma série de perguntas que provavelmente nenhum deles saberiam responder.

Não conseguimos entender muitas coisas nessa vida. Algumas até vamos descobrindo com o tempo, mas existem algumas que apenas cabe deixarmos nas mãos de Deus. “Porque essa enfermidade? ” “Porque fui demitido(a) se sempre fui o (a) melhor funcionário(a)?” “logo o meu pai? Porque?”
Deus conduz a história e apenas devemos seguir no fluxo da sua vontade. Afinal, a Sua vontade é boa, perfeita e agradável (Rm. 12:2b). Para encerrar, Isaias nos dá uma pequena noção de Deus e de suas ações:

“Assim como os céus são mais altos do que a terra, também os Meus caminhos são mais altos do que os seus caminhos e os Meus pensamentos mais altos do que os seus pensamentos” (Isaias 55:9)

Descansemos sabendo que Ele tem a nossa vida na palma de Suas mãos!


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